Esses golpes parecem sofisticados. Vendem “plataforma de rendimento garantido”, “robôs que negociam criptomoedas” ou “microfazendas inteligentes”. Mas a verdade costuma estar em uma estrutura insustentável: o dinheiro dos últimos participantes paga os primeiros — até faltar gente nova. Quando isso acontece, vem o rombo. Um documento da CVM prova que esse tipo de negócio é crime, e citei casos como a Telexfree (com mais de 1 milhão de brasileiros lesados e rombo bilionário), o caso Boi Gordo (prometia 42 % de lucros com gado e deixou R$ 3,9 bilhões em prejuízo), ou a Avestruz Master, que vendeu promessas sobre 600 mil aves, mas tinha só 38 mil — e faliu em 2005 com indenizações a pagar.

Cada um desses nomes percorreu jornais, fóruns e sites da CVM. E, antes de cada colapso, havia histórias de ganho real (ao menos para quem entrou cedo). As vozes da mídia, que vaticinavam o novo boom, acabaram viralizando no tribunal. O ciclo se repete porque cada vítima acaba virando divulgadora, porque anúncios bonitinhos valem mais que análise — até o dia que a pirâmide rui.

Não existe fórmula perfeita para detectar golpe, mas existem várias bandeiras vermelhas que, juntas, dão sinal de perigo:

• Promessas de retornos muito altos, frequentemente acima de 10 % ao mês (mesmo mercado cripto varia e não garante isso). Se alguém disser que é “lucro mensal garantido”, desconfie.

• Ênfase no recebimento por recrutamento, não por vendas genuínas ou resultados — típico de pirâmide.

• Difícil sacar: pedem pra “deixar reinvestido” ou inventam taxa para liberar saque.

• Falta de transparência e uso de linguagem difícil (affa mais de 30 kg de picanha e zero geliefert?). Empresas sérias não fogem de informar CNPJ, modelo de negócio, auditoria ou contrato claro. Se não disser, já acende a luz.

• Não é registrada na CVM nem no Banco Central. Se somada à pressão para investir “nas próximas 2 horas”, é radar vermelho.

Fica o alerta: golpe bom demais para ser verdade costuma vir com urgência, silêncio e empolgação de quem entra.

Se apareceu aquele vínculo emocional — amigo, grupo, “negócio de família” — aqui vai o jogo real:

1. Pare e analise o histórico: pesquise CNPJ, google e consulta nas listas de alertas da CVM.

2. Peça auditoria, contrato, demonstração de resultados; exija formalização do recebimento. Escute respostas vagas e fuja imediatamente.

3. Não convide ninguém. Participar para mostrar que não é golpe fere não só sua reputação, mas pode te tornar réu por estelionato.

4. Diversifique: em vez de investir tudo nesse “Fundo viral de 15% mensal”, prefira Tesouro Direto ou CDB pós-fixado com liquidez. Sem promessa milagrosa, e com rendimento real.

5. Se já investiu, reúna comprovantes, fale com um advogado ou defensor público, depois leve ao Procon, Ministério Público Federal ou à Polícia Federal. Quanto mais cedo denunciar, maiores as chances de entrar numa massa falida com possibilidade de ressarcimento parcial do investimento.

Quer ajuda para verificar um investimento ou até montar um questionário para quem te convidou? Me chama! É leve, sem enrolar e sem ‘conselhos de guru’, só raciocínio e segurança.

Esquemas piramidales e Ponzi não vão desaparecer: eles mudam de rótulo, usam promessas novas, prometem segurança — mas o mecanismo é sempre o mesmo: o fluxo de dinheiro se sustenta com novos ingressos, e colapsa quando alguém para de entrar.